Tendo em vista a repercussão que está dando a proposta de uma parlamentar baiana, de tirar, banir do mercado musical letras que destratem a mulher, tenho recebido diversos e-mails perguntando se não me manifestaria a esse respeito. Olha, em princípio não iria comentar mais essa história porque já estava ficando um assunto batido. Mas, diante do que vi no final de semana passado com uma pesquisa do programa Fantástico, mudei de ideia.
E em sendo assim, posso começar dizendo que: para o mundo que eu quero descer (risos!). A coisa está ficando tão complicada. Estão querendo fazer do politicamente correto um “tão correto” que vai chegar a um ponto que as pessoas vão deixar de se falar ou olhar uns para os outros porque talvez seja criada uma lei que preveja uma olhada ou uma falada errada (risos!).
Olha, desde que me entendo por gente a música sempre teve seus momentos de censura. E em se tratando de Bahia ou da música Baiana, isso acontece já há um bom tempo. Claro, que de outras formas. Somente para relembrar aos que não conhecem um pouco da história, creio que a coisa, ao menos na minha ótica, começou com Tom Zé que teve seu clássico disco “todososolhos” (risos!) proibido à época de ser lançado. Isso porque a capa do LP (forma que se chamava disco de vinil) era nada mais do que a foto de uma bola de gude fixada no ânus de uma mulher e no qual dizia ele que era: “o olho que tudo vê” (risos!).
E nesse bolo também estavam Gil, Caetano, Gal, Bethânia e todos os cabeludos da Tropicália acusados de tudo quanto é coisa à época. Mas naquele tempo, como justificativa para se barrar o direito à liberdade de expressão, havia a censura, acompanhada do uso da força, da imposição dos ”ditos corretos”, da justificativa dos bons costumes e da moral, que imperava no Brasil de então.
Momentos difíceis aqueles. Músicos destratados, não todos, lógico, mas o que ideologicamente não se enquadravam no “País que vai pra frente”. Perseguição ferrenha e da forma que pudesse ser, naqueles que não seguiam as normas impostas pela ditadura.
Mas aí a censura passou e a ditadura foi abolida no país. Solidificando a democracia, veio a Constituinte de 1988 e com ela o chamado Estado Democrático de Direito que diz no seu artigo Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e a propriedade. E diz mais: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política e termina dizendo que: É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
Mas aí amigo, e sempre tem o mas (incrível isso!), agora me surge um projeto de lei que quer proibir as bandas de pagode que fazem música que, na ótica da “censura prévia”, ofendam as mulheres, de serem contratadas pelo Governo do Estado e pelas prefeituras da Bahia.
Eu sinceramente não consigo entender, em se falando de liberdade a expressão, por mais pífia que seja, que se faça censura prévia e se limite um direito assistido pela constituição. Trocando em miúdos, a censura voltou a ser estabelecida, mas claro que desta vez em outro formato: o politicamente correto.
Ou seja, o direito adquirido com tanto custo, tanto suor, cai por terra a partir do momento que se pressupõe condições para expressar em certas esferas.
E olhe, não estou defendendo os que fazem música boa ou ruim, estou defendendo o direito de uma banda não poder mais se expressar temendo perder shows. E ainda me vem dizer que a pesquisa do Fantástico deu favorável à lei. Me batam um abacate. O mercado fonográfico doido pra ganhar uma fatia do mercado que é nosso, cheio de sulista despeitado e com raiva da Bahia, pega de mão cheia esse projeto de lei que, além de tudo, pode acabar com diversos empregos aos que não forem a favor da implícita imposição.
Decidir o que fazer, comer, ouvir, assistir hoje em dia, é um direito assistido. Penso não ser necessário uma lei para dirimir isso. Até porque, não quer, ver feche os olhos, não quer comer, feche a boca, não que ouvir desligue o som ou saia do local.
Quem sabe faz a hora não espera acontecer. Nunca se esqueça disso.
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